O Karate-Do


Surgiu da vontade de unir saúde física e mental, assim como da necessidade de defender seu próprio corpo, visto que naquela época as armas eram proibidas. A literatura e os meios de informações a respeito do karate , são muito escassos, em razão de ter sido uma arte militar ensinada de professor para aluno em circulo fechado. Algumas regiões reclamam sua paternidade como a Índia pela influencia do budismo de Daruma, a China pelos intercâmbios comerciais e diplomáticos entre Okinawa e a dinastia Ming na China, e o Japão por ter popularizado esta arte. No entanto, passaremos a relatar uma série de acontecimentos que poderá melhor situar o surgimento do karate, ou ao menos, mostrar as influencias de cada região, para se entender o porque de cada técnica a ser priorizada por um determinado estilo desta bela arte.

Primeiramente, da Índia veio um monge budista, Bodhidharma (em japonês conhecido como Daruma), que tinha como principal objetivo pregar o verdadeiro budismo que, na sua visão, vinha sendo pregado erroneamente. Na China, Daruma encontrou-se com o imperador Wu, o qual discordava de Daruma em um dos princípios fundamentais do budismo. Wu pregava que o paraíso somente era alcançado pós-morte, enquanto que para Daruma o paraíso se alcança quando se tem um alto controle de seus impulsos, unindo corpo, mente e espírito em prol de praticar o bem. Esta divergência ocasionou a expulsão de Daruma do império de Wu. Partiu então para o norte da China chegando ao templo de SHAOLIN, em sua bagagem havia livros sobre Artes Militares que contribuíram para a formação da luta SHAO-LIN-SSU, método que deu origem as mais diversas artes. SHAO-LIN-SSU mais tarde conhecido como KEMPÔ chegou ao arquipélago de RYU-KYU (nome dados pelos chineses as ilhas) com algumas mudanças do KEMPÔ SHAO-LIN-SSU original.

O Karate na Ilha

Sua chegada a ilha é conhecida de duas formas:
A primeira é que Shungo Sakugawa da cidade de Shuri, viajou para a China para trazer o Kempô a sua terra. Sakugawa, que nasceu em 05 de março de 1733, obteve grande parte de sua formação com o monge Peichin Takahara, que vivia em uma aldeia conhecida por Akata, e também com um mestre chinês chamado Kwan Shang Fu que morava próximo a Naha. (do seu nome os okinawenses derivaram o nome Ko Sho Kun ou Kushanku – nome de um Kata -). Após cerca de cinco anos de treinamentos o mestre Kwan Shang Fu voltou para a china onde faleceu em 1790. Sakugawa teve sua arte chamada pelos japoneses de “Karate Sakugawa” ou “Busho Sakugawa”. Entre seus discípulos, alguns se destacaram como; Sakiyama, Gusukuma, Okuda apelidado como “mão de ferro” pela força do seu golpe de punho, Makabe chamado “homem pássaro” pela sua extrema agilidade nas técnicas de saltos e de esquivas. Outro grande destaque foi Matsumuto que dominava de maneira geral todos os fundamentos da arte To – De, a quem o mestre Sakugawa passou antes de morrer o “Menkyo Kaiden” que significa “já dei tudo” como certificado de sucessor oficial, Sakugawa faleceu em 17 de agosto de 1815. Mas daí surgiram varias ramificações.

A segunda forma, é que guerreiros que acompanhavam um mensageiro da corte chinesa, tenham ensinado o Kempô ao povo de Shuri. Aconteceu que nas ilhas de Ryu Kyu juntaram técnicas de Kempo trazidas da China com as suas técnicas individuais e deram o nome de Okinawa – te. Sendo na cidade de Shuri, conhecida como Shuri – te e na cidade de Naha por Naha – te, quando a ilha de Okinawa ainda pertencia ao domínio da China. Depois as técnicas chegaram ao Japão onde consegui seu apogeu. Conclui-se então que as duas formas de como contam que a arte chegou as ilhas, assemelha-se no aspecto geral, divergindo entre(escreva dois pontos) a precisão de algumas informações numa e a falta de detalhes na outra forma.

“Ryu Kyu” é a denominação do arquipélago que vai desde o promontório de Kagoshima – extremo sul do Japão – até a formosa ilha de Taiwan, onde se localiza Okinawa (Oki = oceano ou grande , nawa = cadeia, corrente ou corda), com cerca de 100 quilômetros de comprimento e uma largura que varia de 30 a 4 quilômetros de onde se pode ver o mar da China a oeste e o Oceano Pacifico a leste. Seu aspecto é de uma corda nodosa e flutuante. É uma ilha que pertenceu a China e depois foi dominada pelo Japão. Fica eqüidistante da China ao leste e do Japão ao sul, possui cerca de 1500 quilômetros quadrados. A principio teve forte influencia da China mas durante os séculos XI e XII, guerreiros japoneses fugindo das guerras civis do Japão, levaram para a ilha suas habilidades de combate. Devido a ilha ficar geograficamente bem posicionada, em relação às atividades que na região se desenvolviam, os portos recebiam povos do Japão, China, Coréia, Tailândia, Malásia e Indonésia, proporcionado assim um encontro de cultura e arte marciais.

Okinawa estava dividida entre os clãs rivais que se enfrentavam constantemente . Daí, pouco se sabe sobre a ilha até o século XIII. Surge entao Shunten ou (Sonton) – senhor de Uraso e, provavelmente, o primeiro rei de Okinawa. Durante o século XIV foram estabelecidas relações comerciais com a China, a Coréia, o Japão, Java e Sumatra. É conhecido que em 1372, o rei de Okinawa prestou voto de obediência ao Império Chinês Ming (1368 – 1644) a quem passou inclusive a efetuar pagamento de tributos. Em 1429 a ilha foi unificada pela primeira vez, foi o rei Sho Hashu quem reuniu as velhas províncias de Chuzan, Hokuzan e Nanzan. Foi nesta época que as grandes aldeias Naha e Shuri tornaram-se cidades comercialmente prósperas.

Antigos documentos mencionam que a China da Dinastia Ming enviou para a ilha 36 (trinta e seis) famílias e sem dúvida entre esses chineses, alguém dominava as técnicas do Box Chinês. São os primeiros vestígios do Shaolin. Durante o século XV por volta de (1421 – 1439) o rei Sho Hashi ou o rei Sho Shin (1477 – 1526) – que a história não dar uma certeza, promulgou um édito imperial que proibia o uso, o porte ou a conservação de armas de qualquer natureza, então os governantes da ilha confiscarão espadas e armas semelhantes e proibiram seu treinamento. Foi a partir de então que, levados pelo instinto natural de sobrevivência, as artes marciais de Okinawa passaram a enfatizar primeiramente o combate de mãos vazias, que deu origem ao atual Karate ou com armas improvisadas que deu origem ao Kobudo – sai, bo, nunchaku, kama, tonfa, chimbe, tekko… .

Já que havia a proibição do uso de armas, e devido a gravidade às vezes mortal que motivava os treinamentos, a prática do Karate era feita em absoluto segredo. No inicio do século XVII, no Japão houve uma das mais terrível guerra civil onde o clã vencedor foi dos Togukawa e o vencido foi o clã dos Satsuma. Os Satsuma dirigidos pela família Shimazu, derrotados porem não destruídos foram enviados para as ilhas Ryu Kyu em 5 de abril de 1609, maneira astuciosa de livrar-se do inimigo e ao mesmo tempo estabelecer um controle japonês sobre a ilha que até então era domínio chinês. Okinawa na época com meio milhão de habitantes recebeu uma frota de 3 mil guerreiros. Os okinawenses ficaram sob o jugo dos invasores até que em 1879, quando a ilha se tornou território japonês incorporado ao Império de Mutsu-Hito. Logo após a ocupação, surgiram as primeiras ordens de Ichisa Shimazu, a principal foi reforçar as disposições antigas, ficava proibido pela segunda vez, a posse de todo tipo de arma e qualquer praticam de caráter marcial. Já que os invasores haviam confiscado todos os objetos e utensílios de ferro e desativaram as fundições. Assim veio a influencia dos samurais, que praticando seus exercícios como forma de arte marcial ou defesa pessoal, através dos quais desenvolveram a disciplina, a paz, a moral e o civismo para impor a ordem a sua nação. Nesta ocasião , a maior influencia veio dos estilos do templo Shaolin Chinês. Devido ao conflito sino nipônico, o povo japonês não aceitava qualquer palavra que representasse a cultura chinesa. Funakoshi mudou os símbolos de (KARA) que significava TANG referindo a dinastia TANG da china e deu a atual acepção da palavra(KARA) Vazia (TE) Mãos, (KARATE) Mãos Vazias que veio do conceito ZEN. Funakoshi escolheu o citado sentido pelo seu significado na filosofia budista, pois para ele o Karate, além de arte marcial era também uma maneira de construir o caráter, já a palavra DÔ acrescentada à palavra KARATE significa “Caminho, vereda espiritual e filosófica” daí KARATE – DO ser “O CAMINHO DAS MÃOS VAZIAS”. Instrutores como Funakoshi e Yamaguchi promoveram o karate junto às universidades onde esta arte obteve novo status .

Em 1914 e 1915 mestre como Mabuni, Motuso, Kyan, Ogusuku, Gusukuma, Tokumura, Ishikawa, Yabiku e Funakoshi revezaram-se em demonstrações na ilha, época em que houve um entendimento mais cordial entre os três estilos.
Na Buto Kukai (organização japonesa de administração das artes marciais) o karate foi aceito como arte recém criada.
Da China e especialmente das escolas de Kung Fu, o karate herdou muitos ensinamentos, basta se ver onde grandes mestres faziam seus estudos de aprofundamento, em todos os setores desta arte encontraremos vestígios, muito embora com o processo de evolução da arte, alguns traços chineses foram sumindo. O surgimento do “gi” (uniforme), uma variedade de faixas e o símbolo da mão da Dinastia Tang, são uma demonstração da gratidão às formas da arte chinesa.

O karate em principio usou o sistema de graduação Kyu-dan do Judô, assim como o kimono branco.
No final do século XVIII e inicio do século XIX foi a época de eclosão do karate de Okinawa, três grandes estilos surgiram trazendo tanto seus experts e seguidores como seus detratores. Shuri – te, Naha – te , Tomari – te foram os estilos iniciais de onde mais tarde derivaram – se tantos outros, com o aperfeiçoamento das técnicas pelos mestres. Desta época até nossos dias, o Karate tem sido submetido a pesquisas de métodos científicos com o propósito de melhorar as técnicas criando métodos de treinamentos sistemáticos, sem perder a filosofia e a essência da arte original.